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O Lugar das Coisas é onde as coisas querem estar

Galeria Arte Hall, São Paulo - SP, 2018

O uso de materiais têxteis como forma de expressão criativa remonta às primeiras civilizações. Por tradição, havia uma separação entre práticas fine art e artesanais, até que no início do século XX a Bauhaus passa a defender a importância do design na vida cotidiana, adotando o tecido como parte importante de sua abordagem experimental. 

 

Embora o desenvolvimento dessa área na escola diz respeito, diretamente, à questões de gênero, não enveredaremos por esse assunto - ao menos não nesse momento. Por ora, cabe refletir sobre como arte conceitual e artes tidas como manuais, por muito tempo, foram vistas como opostos em um espectro do circuito de arte, neste momento da arte contemporânea essa polaridade parece estar cada vez mais distante.

 

Nesse sentido, a exposição presta atenção à prática artística de Cristiane Mohallem e Thais Stoklos que em comum, aqui, apresentam trabalhos em que o ofício manual é a base para construção de suas obras, que na exposição mostram que a distinção entre forma e conteúdo é difícil de manter e que o conteúdo também sai do material e não é apenas comunicado através dele. Fisicalidade e tatilidade são realidades que aparentemente não queremos, mas também não somos capazes de desconsiderar.

Se vivemos em uma sociedade contemporânea na qual algumas demandas necessitam respostas quase que imediatas, as artistas caminham no contrafluxo dessa angústia pela gratificação instantânea ao requerer presença, seja do espectador, seja a sua própria. É preciso tempo para contemplação. É preciso manter o olhar atento aos detalhes, que nem sempre são dados à primeira impressão.

Ao explorar como os têxteis e os ofícios manuais podem ser implementados de maneiras novas e imaginativas na arte contemporânea, Cristiane e Thais demonstram como tais práticas aparentemente tradicionais permanecem particularmente relevantes para nossa sociedade atual. Especialmente quando retomamos à Bauhaus, exemplificando pelo trabalho de Anni Albers (1899-1994), que teve que abraçar as possibilidades dos têxteis quando lhe foi recusada uma vaga no curso de arquitetura por causa de seu gênero.

Na soma dos movimentos que discutem qual o lugar das coisas, e sendo o têxtil uma prática sempre relegada ao universo da mulher, em uma outra camada subjetiva, também observamos a prática de Cristiane e Thais como um ato de, ao mesmo tempo, resistência e libertação. De se poder ocupar o lugar de desejo de onde se quer estar. Seja o ambiente da casa, sejam as paredes de uma galeria.

Carollina Lauriano.

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